O meu nome é Gonçalo, tenho 15 anos.

Nasci apenas com 27 semanas, 1.150 kg. por cesariana e em sofrimento. Durante todo este processo a falta de oxigénio que comecei a sentir danificou o meu pequeno cérebro.

Quando se nasce assim tão pequenino, a “batalha” começa logo. Não temos o organismo preparado para tantas adversidades. Perdi peso, fiquei apenas com 800 gramas. Começaram a fazer-me exames diversos e chegaram a uma conclusão: durante o tempo que estive para nascer e pelo sofrimento e pela luta que tive que fazer, surgiu no meu cérebro um pequeno coágulo sanguíneo.O prognóstico era muito reservado. 

Mas eu sempre fui um lutador, e muito teimoso. Acho que desde cedo eu percebi que tinha que lutar muito para chegar algum lado, por isso, durante os três meses em que fiquei internado nos cuidados de prematuros, venci todas as batalhas e ganhei peso. Saí do hospital com 2,5 kg  e fui para casa.

Fiquei a saber que tinha um irmão apenas com um ano de diferença de mim. Ficamos grandes amigos. Como todas as crianças entrei para a creche quando chegou a altura. Fiquei muito contente porque tinha muitas outras crianças com quem brincar e fazer amigos.

A minha mãe chamou-me um nome muito engraçado, que ainda hoje ela utiliza, chamou-me bichinho de conta; eu explico porquê. O bichinho de conta anda devagarinho e quando se assusta fica todo enrolado numa pequena bola. Eu também sou assim, o meu desenvolvimento foi muito lento. De vez em quando ficava enrolado em mim mesmo. Talvez observando o mundo, aprendendo e percebendo.

Durante esse período era como se não existisse. Nunca demonstrei como as outras crianças as emoções. Fazia-o por etapas. Assim, demorei mais tempo a sorrir. Mas depois de ter aprendido nunca mais o deixei de o fazer.

Comecei a falar mais tarde, mas quando o fiz, foi de forma perfeita. Comecei a andar, mas nunca gatinhei; percebi que não conseguia gatinhar, e portanto, na creche, como queria andar com os outros meninos, comecei por me agarrar ao berço e ás paredes e, assim comecei a andar.

Afinal eu conseguia fazer tudo... era fantástico!! Os meus pais nunca levaram a sério aquelas palavras do médico, para eles eu era apenas mais pequenino. 

È claro que tenho dificuldades diversas. Todo  o meu lado esquerdo do corpo ficou  parcialmente afectado. A minha perna esquerda já sofreu três operações. O meu braço fica por vezes simplesmente esquecido. A minha visão também não é das melhores, mas corro, brinco, já escrevo de forma a que consigam ler as minhas letras que ainda não são perfeitas., adoro cantar e dançar e, claro, adoro cavalos. O meu sonho era andar a cavalo, e, com a ajuda do Centro Hípico da Costa do Estoril, tornou-se realidade.

Através da equitação consegui andar mais direito e estar mais atento, pois essa é uma dificuldade que tenho.

Já faço equitação há 3 anos. Tem sido fantástico. Uso umas rédeas que são adaptadas por causa do meu braço, e tenho também uns estribos próprios para que a minha perna esquerda, que é mais frágil e não tem tanta força, não saia do lugar.

Em 2011 consegui vencer mais uma batalha e entrei no meu primeiro concurso, o CDN de Cascais, no Centro Hípico da Costa do Estoril. O nervoso era muito mas foi inesquecível. Consegui ter uma pontuação fantástica, 60,3% no primeiro dia e 61,7% no segundo. Desde então já participei em várias provas conseguindo boas classificações, estando o meu record nos 67,50%. Para mim foi mais uma batalha vencida. Afinal, participei junto com outros cavaleiros em algo que seria impensável para mim quando nasci.

Acho que nada é impossível quando se quer alcançar. Tenho aprendido isso ao longo dos meus 15 anos e tem sido fantástico.

O meu próximo sonho é continuar a participar em provas de equitação nacionais e chegar talvez um dia às internacionais. Conto com a ajuda dos meus país, conto com a ajuda do Centro Hípico da Costa do Estoril e gostava de contar com apoios de empresas também. Neste desporto, os apoios e patrocínios são muito importantes.

ps: Escrito pela minha mãe.

Cavaleiro Federado nº 19089