Biog

22-02-2011 13:00

O meu nome é Gonçalo, e neste momento estou quase a fazer 14 anos, no dia 10 de Março. Até aqui , tudo normal. Mas nem sempre foi assim. Na realidade quando tudo começou, as cores eram muito cinzentas.

Vou contar-vos a minha “PEQUENA” história.

Nasci apenas com 27 semanas. Como era muito cedo, os médicos ainda tentaram atrasar o meu nascimento o maior número de horas possível. Os meus  pulmões não estavam preparados para respirar. Tudo em mim ainda era muito fraco e uma luta pela vida começava. A luta demorou horas, horas durante as quais se tornava mais dificil a minha sobrevivência, até que o tempo acabou. Não foi possível alongar mais o tempo, e eu nasci. Acabei por nascer por cesariana e em sofrimento. Durante todo este processo a falta de oxigénio que comecei a sentir danificou o meu pequeno cérebro.

Nasci apenas com 1,150. Fiquei na incubadora durante os primeiros três meses. Era perfeitinho, aos olhos de minha mãe, um pequenino boneco, com uns enormes olhos negros.

Durante esse período viveu-se uma agonia constante, nunca sabia se chegava ao dia seguinte, o sofrimento dos meus pais era constante, também eles não sabiam se chegava ao dia seguinte.

Os meus pulmões precisaram de ajuda para respirar, por isso fiquei ligado a diversas máquinas, e com imensos tubos. Para que esses tubos não saíssem do lugar, eram colados à minha frágil pele. Ainda hoje tenho algumas cicatrizes, porque a pele era tão frágil que quando retiravam a fita a pele saía. Mas isso não era o pior.

Quando se nasce assim tão pequenino, a “batalha” começa logo. Não temos o organismo preparado para tantas adversidades. Perdi peso, fiquei apenas com 800 gramas. Começaram a fazer-me exames diversos e chegaram a uma conclusão: durante o tempo que estive para nascer e pelo sofrimento e pela luta que tive que fazer, surgiu no meu cérebro um pequeno coágulo sanguíneo.

O prognóstico era muito reservado, no entanto, o médico informou a minha mãe que provavelmente eu não iria andar, não iria falar. Enfim ficaria preso a uma cadeira.

Mas eu sempre fui um lutador, e muito teimoso. Acho que desde cedo eu percebi que tinha que lutar muito para chegar algum lado, por isso, durante os três meses em que fiquei internado nos cuidados de prematuros, venci todas as batalhas e ganhei peso. Saí do hospital com 2,5. E fui para casa.

Fiquei a saber que tinha um irmão apenas com um ano de diferença de mim. Ficamos grandes amigos. Como todas as crianças entrei para a creche quando chegou a altura. Fiquei muito contente porque tinha muitas outras crianças com quem brincar e fazer amigos.

A minha mãe chamou-me um nome muito engraçado, que ainda hoje ela utiliza, chamou-me bichinho de conta; eu explico porquê. O bichinho de conta anda devagarinho e quando se assusta fica todo enrolado numa pequena bola. Eu também sou assim, o meu desenvolvimento foi muito lento. De vez em quando ficava enrolado em mim mesmo. Talvez observando o mundo, aprendendo e percebendo.

Durante esse período era como se não existisse, nunca demonstrei como as outras crianças as emoções. Fazia-o por etapas. Assim demorei mais tempo a sorrir. Mas depois de ter aprendido nunca mais o deixei de fazer.

Comecei a falar mais tarde, mas quando o fiz, foi de forma perfeita. Comecei a andar, mas nunca gatinhei, percebi que não consegui gatinhar e portanto, na creche, como queria andar com os outros meninos comecei por me agarrar ao berço e ás paredes e assim comecei a andar

Afinal eu conseguia fazer tudo. Era fantástico.  A minha mãe nunca levou a sério aquelas palavras do médico. Para ela eu era apenas mais pequenino. 

È claro que tenho dificuldades diversas. Todo  o meu lado esquerdo do corpo ficou afectado. A minha perna esquerda já sofreu duas operações. O meu braço é mais pequeno e fica simplesmente esquecido. A minha visão também não é das melhores. Mas corro, brinco, já escrevo de forma a que consigam ler as minhas letras que ainda não são perfeitas. Adoro cantar e dançar. E claro. Adoro cavalos.

Esta é outra história. Um dia eu vi na televisão um programa que se chamava  “como realizar um sonho” . Com a ajuda do meu irmão, e sem os meus pais saberem inscrevêmo-nos os dois. O meu sonho era andar a cavalo. Mas as possibilidades económicas familiares para esta actividade eram poucas. Pagar as aulas de equitação era complicado.

Assim quando sobe que tinha sido seleccionado fiquei muito contente. A Luciana Abreu permitiu-me realizar esse sonho. O Centro Hípico da costa do Estoril, deu-me esse sonho e tornou-o realidade.

Através da equitação consegui andar mais direito e estar mais atento, pois essa é uma dificuldade que tenho.

Já ando na equitação faz mais ou menos 2 anos. Tem sido fantástico. Uso umas rédeas que são adaptadas por causa do meu braço, e tenho também uns estribos próprios para que a minha perna esquerda, que é mais frágil e não tem tanta força, não saia do lugar.

Este ano consegui vencer mais uma batalha e entrei no meu primeiro concurso, o CDN de Cascais, no Centro Hípico da Costa do Estoril. O nervoso era muito mas foi inesquecível. Consegui ter uma pontuação fantástica, 60,3% no primeiro dia e 61,7% no segundo. Para mim foi mais uma batalha vencida. Afinal participei junto com outros cavaleiros em algo que seria impensável para mim quando nasci.

Acho que nada é impossível quando se quer alcançar. Tenho aprendido isso ao longo dos meus treze anos. Tem sido fantástico.

Hoje estou no 6º ano do ensino básico, frequento um ensino adaptado ás minhas capacidades de aprendizagem.

O meu próximo sonho é continuar a participar em provas de equitação nacionais e chegar às internacionais. Mas para que este sonho tão grandioso se concretize preciso da ajuda de todos. Conto com a ajuda dos meus país, conto com a ajuda do Centro hípico da Costa do Sol.  Nesta actividade, os apoios e patrocínios são muito importantes, por isto, também gostava de contar com o vosso apoio.